O Dia Nacional da Consciência Negra, celebrado em 20 de novembro, oficializado por lei desde 2011, tem também um significado muito especial para os profissionais da arquitetura e do urbanismo. Para além de ser apenas uma data comemorativa, relembrar o legado de Zumbi dos Palmares e de tantos outros personagens, e por consequência, toda a importância do povo negro na construção de nossas cidades, seja pela sua arquitetura ou pela urbanização delas, é sem dúvida nenhuma um dever histórico.
Ouso dizer, que não há exemplar significativo da arquitetura brasileira que não teve de alguma forma a influência africana, seja na sua concepção, ou em sua construção. Desde a época das fazendas de café e suas Casas Grandes, passando pelas suntuosas Igrejas Barrocas do período colonial, chegando na cidade modernista de Brasília, a contribuição de arquitetos, mestres, artífices e construtores negros ainda é visto de forma incipiente, sem o seu devido e necessário reconhecimento.
Veja o caso do ainda desconhecido, para a grande maioria da sociedade brasileira, do negro Joaquim Pinto de Oliveira, ou Tebas como era chamado, que foi um dos principais arquitetos no século XVIII, em São Paulo, responsável por edificar obras como a Catedral da Sé e o Mosteiro de São Bento.
A invisibilidade dos profissionais negros na arena cultural era uma condição, uma exigência da sociedade escravocrata. A influência africana na produção da arquitetura brasileira ainda é pouco estudada, sobretudo em estados onde quase não há registros históricos, como é o caso de Santa Catarina. Até mesmo em Minas Gerais, onde o arquiteto negro, Antônio Francisco Lisboa, o nosso Mestre Aleijadinho, produziu as mais importantes obras e esculturas do barroco brasileiro, teve que viver em um obscurantismo cultural e financeiro até a sua morte, em 1814. O reconhecimento de sua importância para o cenário cultural brasileiro somente ocorreu no século XX, em 1928, a partir de um texto do escritor Mário de Andrade que descreveu de forma brilhante a importância de suas obras para a construção de uma identidade da arquitetura brasileira. Mesmo assim, até hoje, poucos citam ele, ou o reconhecem como “Arquiteto”.
Portanto, devemos celebrar o Dia Nacional da Consciência Negra não como um feriado, mas sim como um momento importante de resgate da nossa arquitetura e urbanismo, pois valoriza e reconhece a influência da cultura afro-brasileira na construção do nosso Patrimônio Cultural.
Artigo escrito por Luiz Alberto Souza, Arquiteto e Urbanista, Vice-presidente do CAU/SC
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