A prefeitura municipal de Lages demoliu na terça-feira, 10 de dezembro, um monumento em homenagem ao ex-presidente Getúlio Vargas que adornava a Praça João Ribeiro, em frente à Catedral. Construída em 1958 e projetado pelo arquiteto João Argon de Oliveira, a obra foi derrubada a pretexto de um projeto de revitalização da praça, protagonizada pela administração Antônio Ceron (PSD) e gerou reação da comunidade de arquitetos.
Segundo o núcleo lageano do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB-SC), a prefeitura ignorou a mobilização local que se opunha à derrubada do monumento como parte do projeto de revitalização da praça. Em nota de repúdio, em que que classificou como a supressão do monumento como “descaso da prefeitura com o Patrimônio Cultural”, o IAB afirma que as propostas de intervenção na Praça não foram submetidas ao Conselho Municipal do Patrimônio Cultural – COMPAC, órgão que conta com a participação de membros da comunidade, técnicos e entidades de Lages. “Não se faz arquitetura e urbanismo para as pessoas sem ouvir as demandas”, diz a nota, assinada pelos jovens arquitetos e urbanistas da Diretoria do IAB-SC Núcleo Lages e pelo vice-presidente Rafael Marcos Zatta Krahl.
Além de reuniões, um abaixo-assinado também foi organizado para coletar apoio popular à manutenção do monumento. Em apenas um dia, segundo o IAB, 757 pessoas teriam assinado o manifesto em favor da suspensão da obra na Praça João Ribeiro, exigindo a permanência do monumento e da pintura existente, pois entende-se sua importância histórica, cultural e afetiva para a população.
O arquiteto Fabiano Teixeira dos Santos, integrante da Câmara Temática Cidade Patrimônio de Todos, do CAU/SC, acompanha e estuda o tema do patrimônio na cidade de Lages. Ele recorda que houve pelo menos outros dois casos recentes de desvalorização das edificações históricas na cidade no período recente: a destruição do colégio Aristiliano Ramos e o arquivamento do processo de tombamento do Edifício Dr. Acaccio. “Nunca se destruiu tanto em termos de patrimônio edificado na cidade como nesses últimos três anos, com a completa omissão ou mesmo participação direta da prefeitura”, afirmou.
A presidente Daniela Sarmento mencionou o caso durante discurso na solenidade que celebrou o Dia do Arquiteto e Urbanista. “A ação da prefeitura seguiu à revelia das solicitações da comunidade, que identificou seu valor histórico, político e afetivo, mas não foi ouvida, sem o devido espaço de diálogo e acessível como defendemos que as cidades devem ser”, disse Daniela Sarmento. “Precisamos conversar, sensibilizar e ampliar esse entendimento de que a preservação do patrimônio histórico é um bem coletivo e precisa ser entendido e respeitado por todos”, completou a presidente, afirmando que os membros da CT Cidade, patrimônio de todos e conselheiros do CAU/SC são solidários à mobilização lageana.