Como parte do 27º Congresso Mundial de Arquitetos – UIA2020RIO, que ocorrerá no Rio de Janeiro, de 19 a 23 de julho de 2020, foi lançado o Concurso Internacional de Ideias Maré-Cidade. Dirigido a estudantes de Arquitetura e Urbanismo de todo o mundo, o concurso premiará projetos que proponham soluções inovadoras de arquitetura e design urbano para integrar as comunidades do Complexo da Maré, na Zona Norte do Rio de Janeiro, com o restante da cidade, levando em conta os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas. O concurso é promovido pela União Internacional dos Arquitetos (UIA) junto ao Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB), e tem o apoio da agência ONU Habitat. As inscrições estão abertas até 30 de março de 2020.
Serão oferecidos prêmios em dinheiro – nos valores de €3 mil, €2 mil e €1 mil – aos três primeiros colocados. Outros três projetos serão destacados com Menções Honrosas, que homenagearão renomados arquitetos do Brasil – Demetre Anastassakis, Roberto Burle Marx e Luiz Paulo Conde. Todos os seis contemplados ganharão um relógio suíço da marca Mido. O anúncio dos vencedores acontecerá em 1º de junho de 2020 e as soluções ganhadoras serão apresentadas ao público durante o 27º Congresso Mundial de Arquitetos, em uma exposição, a partir de 21 de julho.
O tema
O Complexo da Maré é um dos maiores assentamentos populares do Rio de Janeiro, com 16 favelas reunindo cerca de 140 mil habitantes. São mais de 40 mil moradias com diferentes morfologias arquitetônicas, que vão desde construções informais até projetos habitacionais do governo. O local escolhido para os projetos do concurso está entre o conjunto das favelas e uma importante e movimentada via expressa, a Avenida Brasil. Atualmente, o lugar é ocupado por armazéns e prédios industriais, a maioria abandonada ou em desuso. O desafio proposto pelo concurso é a busca de soluções que considerem a população local e sua conexão com a cidade.
“As favelas são definidas como territórios informais principalmente pelo não cumprimento dos códigos urbanos locais oficiais. A visão predominante de uma cidade única, regulamentada e normativa entra em conflito com a realidade constituída pelo crescimento e expansão das favelas. Resta, então, aos arquitetos e urbanistas o desafio de pensar e propor outro conceito de cidade como espaço de diferenças e diversidade”, comenta Fabiana Izaga, uma das organizadoras do concurso e integrante do Comitê Executivo do Congresso Mundial de Arquitetos.
Presidente desse Comitê, Sérgio Magalhães acrescenta que “não há alternativas para lidar com as favelas sem que seja considerada a sua relação espacial com o entorno e com a cidade formalmente construída”.
Construção coletiva
Para definir as bases do Concurso, o Comitê Executivo do UIA2020RIO contou com o apoio do Observatório de Favelas, organização da sociedade civil para pesquisa, consultoria e ação pública voltadas à redução das desigualdades sociais. “Fomos convidados a participar da elaboração do Termo de Referência que vai orientar o trabalho dos estudantes. Além de apresentar a história da Maré, procuramos explicar como se dá o uso dos espaços públicos na região, mostrar as prioridades da população local e apontar, para os participantes do concurso, caminhos de relevância e legitimidade para suas propostas”, conta Aruan Braga, diretor do Observatório de Favelas.
Sobre o retorno da iniciativa para a Maré, ele tem boas expectativas: “é um concurso de ideias e não necessariamente haverá uma aplicação prática do que for proposto, mas, muito além disso, a Maré e as favelas de um modo geral serão pensadas como referências de urbanidade. O concurso contribui para reposicionar e resignificar a Maré em nível global. Também acredito que o diálogo com pessoas de outras formações, com outras culturas e trajetórias, poderá contribuir com o trabalho que já vimos fazendo nas favelas. A diversidade é muito potente para a construção de soluções”.
Júri especial
Para compor o júri do concurso foram convidados profissionais de prestígio internacional, entre eles o colombiano Elkin Velasquez Monsalve, diretor regional da Agência das Nações Unidas para Assentamentos Humanos (UN-Habitat) para América Latina e Caribe, Nadia Tromp, da África do Sul, diretora do Programa de Trabalho da UIA Arquitetura Comunitária e Direitos Humanos, e Alejandro Echeverri, que, como Secretário de Desenvolvimento Urbano de Medellín, entre 2004 e 2008, foi um dos principais responsáveis pela transformação social daquela cidade colombiana. Completam o time os brasileiros Verena Andreatta, doutora em Urbanismo e Ordenação do Território pela Universidade Politécnica da Catalunha, em Barcelona, e autora do livro Cidades Quadradas, Paraísos Circulares, e Gustavo Utrabo, do escritório Aleph Zero, autor do premiado projeto Moradas Infantis, no Tocantins.
Participantes
Poderão participar do concurso estudantes de Arquitetura de todo o mundo, desde que estejam cursando regularmente a disciplina. O concurso aceita equipes multidisciplinares de até cinco membros, porém só poderão assinar os trabalhos como autores ou coautores os estudantes de Arquitetura, Arquitetura Paisagística, Urbanismo, Design Urbano e Planejamento Urbano. Estudantes de outras áreas profissionais poderão assinar como membros de equipe, colaboradores ou consultores. Cada estudante poderá participar de apenas uma solução concorrente.
Todos os trabalhos terão que ser apresentados em inglês, idioma oficial do concurso, e deverão levar em conta a integração entre o Complexo da Maré e o restante da cidade e a relação com a Avenida Brasil, com propostas de novas conexões e cruzamentos.
O edital do Concurso Internacional de Ideias Maré-Cidade está disponível (apenas em inglês) no endereço https://www.uia2020rio.archi/concurso_en.asp#itemA1.