Ilustração: Eugenia Loli
Por Daniela Pareja Garcia Sarmento*
Neste mês de março, em que pensamos a condição das mulheres na sociedade, o Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Santa Catarina está provocando a reflexão sobre o papel das arquitetas no desenvolvimento das cidades. Para além de oferecer visibilidade à contribuição das mulheres, que representam hoje 66,08% do contingente profissional da arquitetura e urbanismo, esta perspectiva nos permite expandir o diálogo sobre o direito à cidade.
O arquiteto espanhol e professor da Escola Técnica de Ensino Superior de Barcelona Josep Maria Montaner observa que a estrutura urbana se mantém e se transforma com prioridade para atender a demanda do capital e as prioridades masculinas. Assim, a cidade é desenhada para atender o fluxo dos homens, em idade média, no auge de sua capacidade produtiva, com trabalho estável e bem remunerado que lhe permite ter carro, deixando as demandas das mulheres, jovens, idosos, crianças e deficientes físicos à margem das prioridades do investimento público. Este retrato oferece uma dimensão da potencialidade da arquitetura e do urbanismo na construção de um modelo de cidade e sua capacidade de incluir a todos.
A história das mulheres pode ser sintetizada como uma história de luta constante pelo direito à emancipação política e pelo direito à cidadania. A própria inserção da mulher no meio urbano é uma importante dimensão do avanço pela conquista por mais espaço e pela participação no fluxo produtivo da sociedade contemporânea. Se considerarmos que a perspectiva de gênero aplicada ao urbanismo é entendida a partir da experiência, alcançamos, através deste olhar, uma atuação mais próxima do usuário e conectada com ele.
É preciso destacar a participação da mulher na construção do território e a possibilidade de revisão da realidade, permitindo que se lance uma nova construção, pautada na visibilidade e protagonismo em defesa de suas demandas na cidade. Com isso, possibilitar a construção de cenários em que as mulheres possam alcançar o direito de circular com segurança, acessar todos os lugares que desejarem, dispor de equipamentos públicos que atendam às demandas oriundas das atividades com a reprodução, ter espaço para empreendedorismo e participação política. E, assim, ver diluídos os limites que determinam o vínculo da mulher com o espaço privado e ampliar sua condição de ser parte do espaço público e político da cidade.
As demandas das mulheres no planejamento urbano não implicam fazer uma cidade especializada unicamente para as mulheres, excluindo o lugar e as necessidades dos outros cidadãos, mas sim afirmar uma perspectiva que representa uma nova abordagem de inclusão, do olhar, da opinião, da percepção e da contribuição das mulheres na construção da cidade contemporânea, trazendo uma nova dimensão ao desenvolvimento da cidade e da sociedade.
Ampliar o universo da cidade é alcançar um caminho transversal para a aplicação de políticas públicas em busca de atender à diversidade e à melhoria da qualidade de vida da sociedade. Enfrentar este desafio é nossa resposta, atendendo a orientação do ODS 11 e as diretrizes da agenda urbana para 2030: o acesso universal a espaços públicos seguros, inclusivos, acessíveis e verdes, aos espaços públicos verdes, particularmente para as mulheres e crianças, pessoas idosas e pessoas com deficiência.
*Presidente do CAU/SC
Gestão 2018/2020